O Lamento de uma Filha
Policial

O Lamento de uma Filha


Depoimento de Thayná Valentim*  

Cresci vendo meu pai ostentar a camisa preta com letras amarelas da Polícia Federal. Nesses 14 anos nos quais ele está trabalhando no Departamento, sempre percebi o quanto ele se orgulha de ser policial federal. Mas não consigo deixar de perguntar: será que a Polícia dá a ele um valor recíproco?
Meu pai, às vésperas de completar 40 anos, é um homem diferente da maioria. Pelo menos dos outros pais de amigos e amigas que conheço. Tem uma vida saudável. Nunca usou bebidas alcoólicas, nunca fumou. Sempre foi atleta. Corre, nada, treina artes marciais, coisa na qual, inclusive, me influenciou e que fez com que eu, aos 16 anos, esteja prestes a me tornar faixa preta em Taekwondo.
 O que teria levado meu pai, então, à emergência de um hospital cardiológico, com fortes dores no peito (“angina”, acho que foi o nome dado) e pressão descontrolada? Logo ele, que todos no trabalho dizem ter criado a “Resolvedoria” da delegacia, ajudando a todos de forma indiscriminada? A pessoa que mais ouve e tenta fazer com que a Polícia Federal tenha uma boa imagem em sua parte que atende as pessoas de bem, não resistiu a tudo o que gira em torno dele e acabou sendo obrigado a fazer uma pausa. Uma parada obrigatória, motivada pelo diagnóstico de todos os três cardiologistas que visitou nesses últimos dez dias: altíssimo grau de stress.
Quantos deles precisarão cair para que o mundo compreenda que a instituição não cumpre o seu papel junto aos seus servidores? Porque todos os meus colegas de escola consideram a Polícia Federal “sinistra”, acima do bem e do mal. E isso é uma idéia que eles trazem de suas casas. Então por que o descaso com as necessidades dos seus funcionários?
 Meu pai costuma elogiar muito a atenção que recebe de seu superior imediato. Diz que é um homem de boa vontade e justo. Mas também comenta que esse mesmo superior fica sempre de mãos atadas, impedido de suprir, apenas com a sua vontade, as reais necessidades de todos os setores da delegacia.
 Fala também, sempre de forma triste, da falta de horizontes para agentes da mesma classe que ele. Agentes especiais, com vários anos de trabalho pela frente, ainda. Para mim, prestes a entrar na Universidade, é difícil acreditar que até o final de sua carreira, ele e seus amigos não serão promovidos a mais nada, dentro de seus cargos. Que espécie de motivação faz com esses policiais caminhem para frente?
 Como o meu pai, devem existir vários outros. Na própria delegacia onde ele trabalha um colega dele, que entrou na mesma época, teve um infarto há pouco tempo. Para que? Por que? Os olhos do meu pai já não brilham como antes. Ele já não sorri da mesma forma, quando o assunto é Polícia Federal. Seu orgulho parece ter se perdido com o tempo. E agora, depois dessa queda, ainda mais. Imaginem um homem ativo e disposto, passar a ficar 90% do tempo na cama, sem vontade de nada e dormindo à base de tranqüilizantes. Ruim para quem lê, pior para mim, que vejo isso diante dos meus olhos.

*Thayná Valentim Araujo é filha do Agente de Polícia Federal Sandro Araujo, lotado na Delegacia de Niterói/RJ.

NOTA DA MARI:
Sandro Araújo, para quem não sabe, é o autor do livro e blog homônimo Anjo da Noite.  Na sexta feira, 9 de julho de 2010, ele publicou em seu blog o seguinte texto:

QUEDA

Serei breve...
Obrigado a vocês que me lêem.
Mas acabei caindo.
Decepcionando...
O físico e o espírito chegaram ao limite.
O coração doeu de tal forma, que me tirou metade da consciência.
A respiração faltou... os membros esquerdos adormeceram com prolongamentos da dor no peito.
E assim, acabei na horizontal, inerte, em um hospital cardiológico.
As lágrimas rolando sem parar... o coração doendo e ao mesmo tempo em pedaços...
Sem saber muito o que esperar do futuro.
Apenas esta dor... Que me acompanha intensa, silenciosa... Desde as 11 da manhã do dia 08 de Julho...
Durante todos os momentos dos meus dias...
Apesar de tudo, minha fé insiste em resistir.

Lastimável esta realidade dentro de uma instituição como a PF. Não é de hoje que os servidores fazem essa solicitação.
O DG fala de qualidade dos policiais, fala de vocação. Apoio. Que tenham isso, desde que dêem em troca dignidade e reconhecimento. 


De que nos adianta ter uma Policia Federal se ela não tem estrutura de trabalho, de carreira e de reconhecimento.
Durante CFP na ANP muitas vezes ouvi de quem estava lá, sobre esta realidade. Dizia que a PF, salvo raras exceções, não valorizava ninguém que não fosse PCPF ou Delta, e repetia com desânimo, a frase que iniciava o discurso de seus superiores “A PF não foi bater na sua porta, ninguém te pediu pra ser federal. Você está aqui por quer.”
Durante muito tempo essa frase o massacrou enquanto pensava no desdém com o qual a carreira, que ele lutava para poder iniciar, seria tratada. Foi então que um dia, um Papiloscopista da PF e então professor da ANP, tomado pela indignação que essa frase provoca em muitos, iniciou seu discurso com a seguinte crítica: “Quando entrei na PF, muitos discursos começavam dizendo que ninguém foi bater na minha porta para me pedir para ser PF. Realmente. Não bateram à minha porta, mas já que a abriram, quero ser recebido e tratado com respeito e dignidade.”
Faço das palavras dele as minhas, e ouso dizer mais. Se a PF não começar a valorizar seu efetivo, vai virar uma instituição de juristas e cientistas que só fazem preencher papel.
A PF não é feita só de Delegados e Peritos, estes são na realidade a minoria. Ela feita também de Agentes, Escrivães, Papiloscopistas e Agentes Administrativos e, mais do que isso, precisa deles.
Invoca-me ver que a estrutura hierárquica da PF independe de capacidade e conhecimento, pois basea-se em diplomas e despreza a meritocracia.
Nos outros países, policias como os do DEA e do FBI têm autonomia para lidar com diversas situações, tem também tecnologia para investigar e operar como policiais, mas acima de tudo, tem chefes que sabem o que estão fazendo. 


Em todas as instituições particulares e muitas das públicas do nosso país o chefe é o mais apto. Na PF não. Lá a única coisa que diferencia o chefe, além do nome que leva seu distintivo, é o bacharel em direito.
Chegar à chefia não é ter, ou não ter determinado diploma, ser chefe é ter experiência, capacidade técnica e prática. É saber lidar com diversas situações diferentes e, com isso, aprimorar o método de investigação, apreensão e a segurança dos que a fazem. Mas na PF não, lá é diferente. A Instituição é limitada e submetida a obedecer a uma hierarquia baseada no ego e na prepotência jurídica. Graças a isso, o nossa policia tem lideres incapazes e despreparados, chefes que pouco sabem do valor e da importância de se ter uma equipe unida.
No final das contas, quem perde com isso é o Brasil, somo nós. Perdemos segurança, controle das fronteiras, do tráfico. Perdemos homens como o Sandro, dignos, ilibados, competentes e que conhecem o trabalho. 


A PF não tem um déficit de efetivo só por que alguns são mortos em operações, ou por que se aposentam. Ela perde muito mais por exoneração. 


De acordo com as estatísticas mais de 60% do total de exonerações na PF são por insatisfação. Com isso meus caros, nós brasileiros, mais uma vez, perdemos. Perdemos por estupidez, burocratização, insatisfação e desvalorização. Se foram muitas pessoas de bem, que poderiam estar defendendo o país, mas que, dia-a-dia, padecem juntamente com essa instituição. 



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