Primeiro dia de curso. Mais de 70 policiais de uma outra polícia, aguardando a "Instrutora Novinha". Quando entrei, a turma inteira se colocou em pé automaticamente (Hein?! Foi.) Eu, fingindo a maior naturalidade do mundo, pedi a todos que se sentassem, enquanto me dirigia ao microfone. O xerife (espécie de líder dos alunos) perguntou se eu precisava de alguma coisa. Respondi que tava tudo tranquilo. Mentira, porque eu estava nervosa. Agradeci a gentileza, me apresentei à turma como agente de polícia, falei onde trabalhava, coisa e tal, e omiti o tempo de casa (óbvio, porque isso depõe contra minha pessoa). Então comecei a explicar como seria o curso e falei sobre regrinhas e outras generalidades das aulas. Incrível assistir nos olhos deles o fascínio que uma mulher reflete em situações de comando (Ui!). Já estava até me sentindo bem mais à vontade. Sabe quando a pessoa está adorando ouvir o som da própria voz? Vai dando corda pra novinho, vai.
Calma. Isso não foi um trote, você não está no blog errado, eu não delirei na broca e este não é um daqueles posts onde no final o autor diz que acordou de um sonho. Ocorre que, mais uma vez eu estava no lugar certo na hora certa. Se é que alguém já notou que só me dou bem aqui por ironia do destino, né? O fato é que um delegado nosso foi convidado a ministrar um curso para outra polícia, sobre cujo tema ele já publicou dois livros. Quanto a mim, guardo uma vaga lembrança de ter tido tal matéria na Academia. Para tanto, ele precisava de alguém que o auxiliasse nas instruções. Tipo: preparar apostilas, pegar e-mail dos alunos, distribuir material, operar datashow, dar os avisos, enfim, fazer todas essas coisinhas por amor à ciência, à integração fraternal entre as polícias e à paz mundial. Tá, eu me empolguei. Voltando. Quem vocês acham que eles iriam mandar? A Novinha! Certa a resposta!!! Porque como vocês já sabem, eu, na qualidade de policial, sou uma ótima secretária. Com todo o respeito à honrosa profissão, sim, eu devo ter mó cara de secretária meiga e compreensiva. Sendo que, no papel, eu era "monitora" (me engana, que eu gosto) e para os alunos fui apresentada como "ins-tru-to-ra"... Percebeu o salto meteórico na evolução da minha carreira?
Mas esse episódio Forrest Gump não terminou por aí. O curso tinha uma parte operacional muito legal que o delegado não tinha o menor interesse em ministrar. Então ele convidou um outro agente que demonstrava maior afinidade com a coisa para conduzir essa parte da instrução. Pelo fato de eu já estar por ali, acabei sendo catapultada pra ajudar o outro instrutor, entendeu a manobra? Aí, sim. Pasma, reconheço que nessa urgência irresponsável com que se resolvem as coisas na polícia, no melhor estilo "NHS" que em sânscrito significa "na hora sai", a gente treinou direitinho os passinhos e fizemos altos exercícios com os aluninhos. E eu lá... corrigindo a execução e performance de cada um: "Não. Não pode fazer assim porque senão acontece isso, olha...". Era eu, toda cheia de razão... e muito embuste, claro.
E é com certo constrangimento que vou assumir o risco de acabar de vez com o que ainda resta da credibilidade altamente duvidosa deste blog pretinho básico, pois vou contar que no encerramento do curso, ganhei dos alunos uma plaquinha de agradecimento "pelos excelentes ensinamentos compartilhados"! Não digo isso com orgulho, porque você, inteligentemente, deve estar se perguntando: "Mascomassim, Novinha?!" Pois é. Eu sei. Uma barbaridade... E, tem mais. Por ser instrutora (no feminino) ainda ganhei flores... Por isso digo àqueles que bondosamente leram até aqui que a partir de hoje não acredito mais em certificados, homenagens e essas baboseiras todas que as pessoas adoram pendurar na parede. Acredite você, se quiser. Mas uma coisa é certa, um imbecil homenageado é algo dantesco.
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