Os três mosqueteiros.
Policial

Os três mosqueteiros.


Os instrutores do curso dos franceses eram três que chamarei de Athos, Porthos e Aramis e havia um quarto elemento que não era instrutor, apenas cuidava da parte administrativa do curso - o D'artagnan. A abordagem francesa nesta área em que trabalho é bem diferente da nossa. Eles têm um preciosismo impressionante com a forma e a estética do trabalho. Nós não. Somos orgulhosamente marrentos e por isso mesmo tivemos algumas dificuldades.

Nosso pessoal estava muito cético com relação a esses instrutores e sua doutrina.  Os alunos faziam corpo mole nas instruções e os atrasos eram constantes o que irritava bastante o corpo docente. Por outro lado, D'artagnan fazia muita propaganda dos equipamentos que eles tinham trazido o que irritava bastante os alunos. Havia um obstinado interesse comercial que bem poderia ter ficado menos evidente. O clima não estava nada bom. Houve até um princípio de discussão, porque um dos alunos entendeu que Athos, o professor da maior parte das aulas práticas (e o mais metidinho também) estava xingando os alunos em francês... Bom, se xingou não foi comigo. 

Na boa? Sei ser prática quando me convém. Me concentrei o tempo todo no que havia de bom e ignorava o resto. Sabe? Tipo "visão de túnel", fechada no que interessava e pronto. Tava nem aí se a tradutora da embaixada traduzia "paniquer" como "panicar". Na verdade os três mosqueteiros me conquistaram fácil. Primeiro porque eu não tenho a vivência dos mais antigos então qualquer coisa que eu aprender será lucro. Portanto, estava muito bem disposta nas aulas teóricas e práticas. Vibrando e transpirando aquela intensidade de quem não tem tempo a perder. E tava sempre atenta para aprender até nos intervalos, com a humildade pura de quem não sabe nada, mesmo... Eu sou assim naturalmente, burrinha e feliz. Segundo, porque eles faziam estudos de caso mostrando os próprios erros. Isso eu acho muito legal, sincero e raro nesse concurso de vaidades que é a polícia. Você já leu "Os Três Mosqueteiros" de Alexandre Dumás? É uma leitura que recomendo. Mas leia as versões originais, mais grossas, e não esses livrinhos editados para o Jardim da Infância. Se você não sabe, o autor fala bastante em sexo, boemia, traição e bebedeira nesse livro. Realismo.

Ao final os alunos fizeram uma apresentação muito bem elaborada para o Zero-Um da Polícia e ele se mostrou muito satisfeito. "Coisa de cinema", ele disse. E, para nooooooossa alegria e surpresa três alunos do curso (eu, inclusive) foram escolhidos pelos instrutores franceses para fazer a "parte dois" desse curso em Paris, na França. Não sei dizer o quanto fiquei feliz. Não só pelo curso, pela Franca e por ter sido escolhida. Mas porque descobri que parece que levo jeito, ou melhor, tenho pelo menos uma certa afinidade com alguma área nesse vasto campo de trabalho que é a polícia. Mas também pode ser por causa das minhas pernas. Essa foi a explicação que ouvi de um colega lá do setor do Jack Bauer, para o fato de eu ter sido escolhida para fazer esse curso e ele não. Não sei se isso foi uma ofensa, uma cantada ou se ele tem celulite.

É, mas isso também não tem a menor importância, pois nenhum dos alunos selecionados vai fazer curso em Paris, apesar de meus esforços desesperados de colocar o Francês em dia. Porque alguém lá do alto-escalão, um corrrrrrrno filho de chocadeira desalmado, entendeu que fazer curso na França era missão para um delegado novinho que não trabalha na área e não participou de curso algum. Realismo.



loading...

- Os Professores.
Sonhei que eu dava aulas na Academia e no sonho eu era mais nova de casa ainda do que sou agora. Esse detalhe não foi ocultado pra provar pra vida que quem determina o nível do ridículo nesse blog, soy yo. Olha, se aluno já pensa que é muita coisa,...

- A Caserna.
 Sou a única aluna "civil" neste curso. O volume exagerado da apostila que preciso devorar me deixa feliz. Como se conseguisse me fazer acreditar que é possível vencer esse medo de não ser capaz na hora do pesadelo. O curso é...

- Sobrou Pra Mim.
A última vez que o fascínio apareceu junto com esse sentimento de impotência eu quase tomei uma punição. Querer acertar é um desejo, não é uma garantia de que tudo vai dar certo. Na hora da decisão é você sozinho e uma angústia...

- Aos Futuros Alunos.
Dez coisas que eu queria que tivessem me falado antes de eu fazer o curso na Academia.Existe um risco de você se machucar nas aulas de defesa pessoal. Portanto, recomendo que façam aulas de artes marciais, de preferência judô, primeiro para acabar...

- Embuste.
Primeiro dia de curso. Mais de 70 policiais de uma outra polícia, aguardando a "Instrutora Novinha". Quando entrei, a turma inteira se colocou em pé automaticamente (Hein?! Foi.) Eu, fingindo a maior naturalidade do mundo,...



Policial








.